PROJETO CÍRCULO
A presente exposição mostra
uma parte de um projeto que une duas áreas de expressão plástica e artística:
o desenho e a cerâmica. Este projeto não tem propriamente um princípio e um
fim.
Estes desenhos não
tinham um propósito ou objectivos precisos, nem tão
pouco imaginaria que os iria expor um dia. Estes eram apenas um escape no
qual deixava a mão e mente trabalhar livre, sem aplicar grandes pensamentos
ou conceitos ao que poderiam ser estes desenhos.
Como tinha uma pequena
caixa cheia de pequenas folhas de aguarela e tinha acabado de comprar uma
caixa nova de aguarelas, estes eram os materiais que tinha “à mão”.
Acrescentando o facto de que sempre preferi os meios líquidos do desenho em detrimento
dos meios riscadores secos. A ideia de transformar a água em cor e a
possibilidade de esta se materializar na folha de papel é um encanto, uma magia
que acontece bem mesmo à nossa frente. Magia que requer, qual alquimista, o
domínio da água e suas mil possibilidades de cor. E de repente, é como se o
gesto da nossa mão tivesse que reproduzir os gestos das margens de um rio,
que flui livremente mas contido na sua forma serpenteante.
As formas-base
circulares que vemos nos desenhos surgem em grupos de três, cada grupo com um
espectro diferente de cor da paleta da caixa de aguarela. Depois as linhas
que surgem por cima dos círculos ganham forma através do gesto
simultaneamente livre, pouco racional ou pensado, mas também contido quer
seja pelo tamanho da folha de papel, quer seja pela espessura da linha. São
linhas que se transformam num rendilhado sugerindo “mandalas”, ou teias de aranha,
ou outra coisa qualquer sem significado específico.
Os desenhos ficaram
guardados na sua caixinha à espera de um acontecimento, até que fui convidada
a expor no Estúdio UM.
Eu já vinha a
desenvolver trabalho na área da cerâmica, tinha acabado de montar a minha
oficina com um pequeno forno e uma roda de oleiro. Foi a partir desse convite
que a ideia cresceu no meu pensamento, de como transformar esses desenhos em
formas tridimensionais. Como recriar os círculos e as linhas do plano
bidimensional do papel numa forma com volume.
A ideia passava por
desenhar uma linha no ar, ocupando esse espaço vazio com matéria. Numa
primeira fase do trabalho comecei por fazer as “linhas no ar” na roda de
oleiro, criando formas circulares de diferentes tamanhos, diâmetros e
alturas. O gesto do oleiro é muito semelhante ao gesto do desenho no sentido
em que não existe uma separação entre o gesto e a mente, tudo é feito entre o
limiar do racional e irracional. Não se pensa muito apenas faz-se.
Depois essas formas
foram pintadas com óxidos próprios para a cerâmica. Essa pintura passou por
reproduzir as linhas dos desenhos de papel. Depois de cozidas as peças
levaram um banho de vidro, o qual transforma a cor dos óxidos e
impermeabiliza o objeto em barro. Foi importante realizar este processo pois
percebi que não estava a cumprir com a ideia inicial de transformar ou a
recriar as formas do desenho em formas puramente tridimensionais ou até mesmo
escultóricas. Tomei consciência que apenas estava a reproduzir o gesto de
desenhar no papel, num gesto de desenhar ou pintar numa forma com volume. Ao
consciencializar-me do facto, partir para novas tentativas de representar o
desenho na escultura em cerâmica. Apresento algumas dessas tentativas
consciente de que estas ainda estão longe do pretendido. Daí que o
trabalho apresentado nesta exposição não é final, é apenas mais um princípio
para um projeto que se estende no tempo e espaço.
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TATIANA FERNANDES DOS
SANTOS
Nasci no dia 13 do mês
de Outubro de 1976 na cidade do Porto. Em criança a brincadeira preferida era
mexer na terra das margens do rio da cidade que me viu crescer. Talvez pela
marca que ficou dessas brincadeiras aos 14 anos dou os primeiros passos no
ensino artístico frequentando o 9º ano na área de Arte e Design. Realizo os
meus estudos secundários no Curso Geral de Artes Visuais na Escola
Especializada em Ensino Artístico Soares dos Reis no Porto. Nesse período
tive a oportunidade de contactar com o associativismo juvenil participando em
intercâmbios de jovens em vários países da europa. Licenciei-me em Artes
Plásticas – Escultura na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. É
nesta instituição que integro o grupo “Identidades” de intercâmbio cultural e
artístico entre Portugal, Brasil, Cabo Verde e Moçambique. No final dos estudos
universitários, conjuntamente com colegas de licenciatura fundamos o coletivo
“Senhorio”, atualmente extinto, mas que durante a sua existência dedicava-se
à publicação independente de fanzines, livros de autor e organização regular
de exposições coletivas, sobretudo, na área do desenho. O início da minha
atividade profissional passou por colaborar como assistente de produção num
projeto artístico de itinerância internacional. Lecionar durante dois anos letivos
a disciplina de expressão plástica nas escolas do primeiro ciclo do ensino
básico de Santa Maria da Feira. É nesta cidade que tenho a oportunidade de
integrar a equipa de trabalho que envolve os alunos das escolas básicas no
festival “Imaginarius”. No ano de 2013 concluo o Mestrado
em Ensino das Artes Visuais no 3º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário,
o qual confere o grau profissionalizante e especialização para lecionar disciplinas
da área das Artes Visuais, este é realizado na Faculdade de Belas Artes em
parceria com a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade
do Porto. Nesse mesmo ano integro a equipa do serviço educativo do Centro
Internacional das Artes José de Guimarães na cidade de Guimarães, colaborando
como monitora de visitas orientadas às exposições patentes, e também, organizando
e realizando oficinas nas áreas Artes Plásticas e Artes Visuais, desde o
desenho, escultura, pintura, cerâmica, contar histórias e património cultural.
É ao serviço deste centro educativo que tive oportunidade de desenvolver
projetos experimentais na área da expressão plástica com turmas do
pré-escolar, do primeiro ciclo do ensino básico e com um grupo de utentes do
CAO da Santa Casa da Misericórdia de Guimarães. Atualmente continuo
a colaborar com o serviço educativo do CIAJG, e também, com outros projetos
educativos desenvolvendo a minha atividade como arte educadora. Em Outubro de
2014 crio o atelier “Bai
d´Roda” dedicado à arte cerâmica no Museu Casa da Imagem – Fundação Manuel
Leão em Vila Nova de Gaia. É neste espaço oficinal que desenvolvo o meu
projeto artístico pessoal. O meu percurso revela que as áreas de interesse em
que me movo são diversas e que todas elas, sem dúvida, mostram a riqueza de
uma experiência de trabalho e de vida únicos, sempre no caminho do encontro
com o “outro” e para sempre o retorno às mãos sujas de terra da minha
infância.
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